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História
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CABOS SUBMARINOS
Ao pensarmos que hoje em dia, quase toda a gente tem o seu telemóvel, o seu computador e outros equipamentos de comunicação em rede, podemos parar um pouco e questionar qual terá sido a evolução das comunicações! Saltamos dos sinais de fumo, do lançar do pombo-correio para os faróis e... com a descoberta da eletricidade todo o processo se acelera e o mundo entra na era da globalização.
A Horta, local geograficamente estratégico no meio do atlântico, desempenha um papel fundamental na história das telecomunicações. Através dos cabos submarinos, condutores de mensagens por impulsos eléctricos, aqui “amarrados”, a Horta transforma-se num entreposto de receção e emissão das comunicações mundiais e pioneira nas comunicações entre os continentes europeu e americano.
O primeiro cabo ficou operacional em 1893, ligando Carcavelos à Horta e a partir desta data outros se foram ligando. Em 1928 concentravam-se na Horta quinze cabos telegráficos submarinos ligados à Inglaterra, Estados Unidos da América, Canadá, Irlanda, França, Cabo Verde, Itália e Alemanha, o que fazia com a cidade constituísse um dos maiores centros de comunicações do planeta, unindo o mundo e globalizando informações de cárater essencialmente meteorológico, naval e bélico, particularmente úteis em períodos como as duas Grande Guerras Mundiais.
Companhias telegráficas de nacionalidade alemã, inglesa e americana instalaram-se na cidade e aqui permaneceram durante seis décadas, influenciando naturalmente a vida social, cultural e desportiva da comunidade faialense. Aprendem-se e falam-se diferentes línguas. Criam-se orquestras que atuam com regularidade e ouve-se jazz. Fundam-se clubes desportivos e praticam-se novas modalidades como o remo, a vela, o pólo aquático, o ténis ou o futebol. A Horta torna-se devido às circunstâncias, numa cidade cosmopolita e cheia de vida, onde inevitavelmente se fazem alguns casamentos entre os funcionários estrangeiros das companhias e jovens faialenses.
O encerramento da ultima companhia estrangeira de cabos telegráficos submarinos dá-se em 1969 pela natural obsolência do sistema. Ficaram os edifícios imponentes como a “Trinity House”, assim chamado por albergar as três companhias e os bairros administrativos e residenciais como as ainda hoje designadas, Colónia Alemã, pertença do Governo Regional e a instalação da companhia americana Western Union, atual Faial Resort Hotel.
Mas ninguém trava a progresso e a história vai-se repetindo. Os cabos telegráficos deram lugar aos cabos axiais e a partir de 1998 aos cabos de fibra óptica, esse prodígio da técnica dos condutores!
AVIAÇÃO
A localização dos Açores no meio do Atlântico foi, em diferentes aspetos, uma dádiva para o progresso mundial. Neste caso, para a história da aviação intercontinental, que viu, especialmente na baía da Horta, um excelente ponto de escala devido à sua localização geográfica, por ser abrigada e por ter acesso às comunicações via cabos submari nos.
A 1ª travessia aérea do atlântico norte, com escal no porto da Horta, é marcada a 17 de Maio de 1919, pela amaragem do frágil Hidrovião NC4 da marinha dos Estados Unidos da América, comandado pelo Capitão Albert C. Read.
E assim irá continuar a história durante as décadas de 20 e 30 com tentativas de atravessar o oceano, umas mal sucedidas, outras que ficaram célebres na história da conquista do ar como por exemplo a da passagem pela Horta, em Maio de 1932 do "gigante dos ares”, o famoso Dornier DO-X, de 30 toneladas e 12 motores.
A 8 de Agosto de 1933, nove aparelhos da esquadrilha do italiano Italo Balbo, amaram na baía da Horta levando ao rubro a população que os recebeu com pompa e circunstância. Nunca se tinha visto nada assim!
A 21 de Novembro de 1933, Charles Lindbergh, ao serviço da Pan America e acompanhado da esposa, amara na Horta no hidrovião Lockheed Sirius especialmente construído para uma viagem de estudo e reconhecimento das melhores rotas. Na consequência deste estudo, a Horta passa a fazer parte da rota intercontinental América - Europa. Primeiro no transporte da mala de correio e a partir de 28 de Junho de 1939 regista-se o 1º voo regular transatlântico de passageiros. Começava definitivamente a história da aviação comercial do atlântico norte.
Nos anos que se seguiram e até 1945, coincidindo com o fim da 2ª Grande Guerra, a baía da Horta tranforma-se num aero-porto de enorme movimento com a presença dos clippers da Pan America, da Lufthansa, da Air France e da Imperial Airways (precursora da Bristish Airways).
O grau de conforto e segurança oferecidos aos passageiros, faz aumentar a procura das viagens aéreas. Figuras ilustres como políticos e artistas vão passando e animando a comunidade faialense que os recebe calorosamente. Os faialenses tem agora também a oportunidade de se deslocarem mais rapidamente aos dois continentes.
O aeroporto terrestre será inaugurado vinte e seis anos mais tarde, a 24 de Agosto de 1971.
MANUEL DE ARRIAGA
Primeiro Presidente da República Portuguesa, Manuel José de Arriaga Brum da Silveira, nasceu na cidade da Horta, no dia 8 de Julho de 1840, na travessa de S. Francisco, na então casa do Arco. Hoje designada, Casa Manuel de Arriaga, foi inaugurada em 2011, como casa museu em homenagem ao estadista e à Republica Portuguesa que comemorou nesse ano os 100 anos da sua implantação.
Oriundo de uma família aristocrata faialense, formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, onde se revelou um aluno brilhante e um orador notável. Participante assíduo nas tertúlias filosóficas e políticas coimbrãs, aderiu ao ideário republicano, estando na origem da criação dos seus primeiros centros, em 1882.
Nesse mesmo ano, foi eleito deputado pelo círculo do Funchal e em 1890 pelo círculo de Lisboa, distinguindo-se no parlamento pela pertinência das suas intervenções e decisões. Foi um dos autores do programa do Partido Republicano Português, apresentado em 1891. Após a implantação da República foi nomeado para o cargo de reitor da Universidade de Coimbra e pouco tempo depois para o de Procurador-Geral da República.
Eleito Presidente da República Portuguesa em 2 de Agosto de 1911, exerceu o mandato num período conturbado da vida nacional e internacional. Renunciou ao mesmo em 26 de Maio de 1915, abandonando definitivamente a vida política.
Manuel de Arriaga, foi escritor e poeta, sendo nas suas obras evidente, as suas raízes insulares, as suas preocupações e os ideais pelos quais sempre lutou.
Faleceu em Lisboa a 5 de Março de 1917 e está sepultado no Panteão Nacional.
Veja em “o que visitar?” Museus , Manuel de Arriaga
FAMILIA DABNEY
1804-1892
Empreendedores, diplomatas, cultos, educados e generosos, a família Dabney marcaram com a sua presença, durante três gerações, a história da ilha do Faial.
Na diplomacia, a John Bass Dabney, nomeado Cônsul Geral dos Estados Unidos da América nos Açores, em 1806, sucede o seu filho Charles William Dabney, em 1826 e mais tarde o neto, Samuel Wyllys Dabney, em 1872.
Nos negócios incrementaram o movimento do porto da Horta através da importação e exportação, sobretudo do vinho do Pico mas também da aguardente, laranja e óleo de baleia, do abastecimento de baleeiras, do fornecimento do carvão e da reparação de navios, assegurando ainda a ligação entre os Açores e os Estados Unidos da América.
Em tempos difíceis, auxiliaram a população faialense assolada por crises alimentares e mediaram conflitos locais, nomeadamente durante as lutas entre liberais e miguelistas. A hospitalidade com que receberam em suas casas, naturalistas, viajantes, jornalistas e ilustres figuras da realeza, tornaram célebres os bailes e saraus proporcionados, designadamente as festas em honra de D. Pedro IV no ano de 1832 e do Príncipe D. Luís, por ocasião da sua visita ao Faial em 1858.
Do Património edificado, foram reabilitadas duas das três moradias outrora pertencentes a esta família: A Fredónia, adquirida por Charles Dabney em 1835, hoje sede da instituição O Castelinho e The Cedars mandada construir em 1851 por John Pomery Dabney, servindo atualmente de residência oficial do Presidente da Assembleia Lesgislativa da Região Autónoma dos Açores.
Após cerca de oitenta anos de permanência na ilha do Faial, a família Dabney, despediu-se. No cemitério municipal, viradas para o canal e montanha do Pico, ficaram as sepulturas dos seus entes mais queridos.
BALEAÇÃO
De grande importância para a economia das ilhas, principalmente do Faial e do Pico, a caça à baleia desenvolveu-se essencialmente na segunda metade do século XIX. Do cachalote aproveitava-se tudo. A gordura transformada em óleo é exportada para o estrangeiro para ser usado como combustível e lubrificante ou utilizado na indústria farmacêutica e de cosmética, no fabrico de sabonetes e perfumes. Os ossos quando transformados em farinha serviam como fertilizantes e rações para gado. Quando no interior do cachalote se tinha a sorte de encontrar âmbar, o lucro da caça duplicava, visto ser um produto muito raro e consequentemente de grande valor comercial.
Tudo começava com o lançar do foguete pelo vigia colocado em pontos altos e que durante horas a fio perscrutava, com o seu binóculo o mar à procura dos movimentos ou do bufo dos cachalotes. Era o sinal para juntar a tripulação e lançar os botes ao mar em perseguição destes mamíferos. Faina que podia durar horas ou até dias.
Vislumbrando uma luta duríssima e perigosa entre homem e animal, com técnicas arcaicas e embarcações pequenas e frágeis, os sete tripulantes de cada bote faziam-se ao mar, cada um com a sua função bem determinada, muita bravura e ousadia.
O bote baleeiro açoriano é uma embarcação única e bela pela sua aerodinâmica, adaptada das canoas que seguiam a bordo dos grandes navios baleeiros americanos no século XIX e que enchiam a Baía da Horta, para aqui receberem como tripulantes os valentes marinheiros das ilhas, aliás como descreve Melville no seu famoso Moby Dick” (1851) “ Um não pequeno numero de baleeiros procedia dos Açores, onde frequentemente, as barcas de Nantucket lançavam ancora para completar , com entroncados campesinos dessas ilhas rochosas, as suas tripulações ...era entre os insulanos que saíam os melhores baleeiros “
A dimensão épica da caça à baleia nos Açores inspirou muitos artistas, historiadores, jornalistas e escritores ao longo de décadas como Raul Brandão (Ilhas Deconhecidas); Vitorino Nemésio (Mau tempo no Canal); Bernard Venables (Baleia!); Dias de Melo (Mar pela Proa); António Tabucchi (A Mulher de Porto Pim) entre tantos outros.
A caça à baleia terminou nos anos oitenta do século XX mas mantém-se o orgulho na história da faina e tradição baleeira com a recuperação do seu património com fins culturais como o Museu dos Baleeiros, nas Lages do Pico ou a Fábrica da Baleia de Porto Pim no Faial, ambos de visita obrigatória. Com fins também desportivos recuperaram-se botes baleeiros que rivalizam em regatas à vela e a remos com equipas das diferentes ilhas ou em regatas internacionais com botes americanos de New Bedford.
A Caça à baleia deu lugar ao Whale Watching, contributo para o turismo regional e que de ano para ano vê crescer o numero de visitantes que não regressam a casa sem antes viver a experiência de ver, fotografar e se emocionarem com estes seres do mar, nos Açores.
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